TERAPIA COMBINADA PARA TRATAMENTO DE TRANSTORNO ANSIOSO-DEPRESSIVO: BIOFEEDBACK, MINDFULNESS E PSICOFÁRMACOS
AUTORES
Sarah Sammy Moreira Sampaio¹; Matheus T Araújo ¹; Dagmar S Bonfim³; Jury R G Garcia²;
¹Docente do curso de especialização lato sensu em Neuropsicologia Clínica da Faculdade IEPSE, Brasília – DF. E-mail: sarahsammypsi@gmail.com; matheus@iepse.com.br
²Diretor Acadêmico da Faculdade IEPSE, Brasília – DF.
³Técnica de Neuromodulação do IMPI - Instituto de Medicina e Psicologia Integradas, Brasília – DF.
INTRODUÇÃO
O biofeedback é uma técnica de autorregulação que propicia a pessoa à aprender a modificar voluntariamente suas atividades fisiológicas, por isso, mostra-se cada vez mais útil no cenário clínico, podendo ser aplicada para a melhora da saúde e do desempenho do indivíduo. Nesta técnica utiliza-se, predominantemente, sensores elétricos, posicionados de forma não invasiva sobre a pele, que recebem informações fisiológicas diversas do organismo, como tensão muscular, temperatura da pele, atividade elétrica do cérebro etc.
Dentre os crescentes usos terapêuticos do biofeedback, os mais comuns são para distúrbios relacionados ao estresse, como a ansiedade e a depressão. Conforme a Classificação Internacional de Doenças (CID 11) o transtorno depressivo e de ansiedade misto é caracterizado pela predominância diária de sintomas de ansiedade e depressão dentro de um período de duas semanas ou mais.
Objetivamos neste trabalho propor a combinação terapêutica de sistemas integrados de biofeedback com terapia cognitiva baseada em mindfulness e farmacoterapia como modelo para tratamento mais eficaz de transtorno ansioso e depressivo misto. Este é o caso de um brasileiro, sexo masculino, 56 anos de idade, pardo, aposentado da Marinha, escolaridade de nível superior, diagnosticado com transtorno ansioso e depressivo misto por mais de dez anos sem tratamento satisfatório. Durante o período do estudo o participante fez o uso de ansiolíticos, antidepressivos e antipsicóticos para auxiliar no sono e na regulação do humor.
MATERIAIS E MÉTODOS
Afetividade, cognição e personalidade foram avaliadas por um neuropsicólogo com os Testes de Personalidade de Rorschach, Inventário Multifásico Minnesota de Personalidade, técnica projetiva de desenho HTP e Teste Gestáltico Visomotor de Bender. Em dezembro 2017, junho 2018 e fevereiro 2019 o funcionamento dos sistemas nervoso central e autonômico foram examinados, com o uso dos seguintes sistemas integrados de biofeedback: eletromiografia, sensível à sinais fisiológicos referents a tensão muscular; biofeedback térmico, sensível à temperatura da pele; eletroencefalografia, que se concentra na atividade elétrica do cérebro; eletrocardiograma; que recebe informações sobre os batimentos cardíacos e suas variações; biofeedback respiratório, que monitora taxa respiratória e padrão respiratório; e eletrodermógrafo, que recebe informações das glândulas sudoríparas e da transpiração da pele.
RESULTADOS
No mês de janeiro de 2017 emitiu-se diagnóstico de transtorno emocional com personalidade disfuncional, traços de insegurança, obsessividade e impulsividade, com cognição preservada. Observou-se indicadores fisiológicos de depressão nervosa com reserva funcional compatível com exaustão da suprarrenal, evidenciando stress intenso e crônico, e indicadores fisiológicos de ansiedade, tendo em vista uma hiperativação adrenérgica.
De janeiro de 2018 a janeiro de 2019, terapia cognitiva baseada em mindfulness, modulação fisiológica monitorada por biofeedback e a utilização de psicofármacos foram combinadas para potencialização do tratamento.
Em junho de 2018 uma segunda análise do desempenho funcional do sistema nervoso autonômico foi realizada aonde observou-se aumento da reserva funcional, que já não estava compatível com exaustão da suprarrenal. Na ocasião, o participante realizou exercícios de controle psico-fisiológico da ansiedade monitorados por biofeedback.
Em janeiro de 2019 foi analisado o histórico de exercícios de controle de ansiedade monitorados por biofeedback aonde observous-se uma média de melhora de 9.3% no desempenho do exercício.
CONCLUSÃO
Ao longo de avaliações clínicas semanais com um neuropsicólogo e semestrais utilizando sistemas integrados de biofeedback observamos (1) evidentes melhoras relacionadas à ansiedade, aos rituais obsessivos e maior facilidade de relacionar-se, relatadas, também, pela família do participante, (2) maior controle nos traços de insegurança, obsessividade e impulsividade, evidenciados no re-teste com o Testes de Personalidade de Rorschach, (3) melhoras progressivas nos indicadores fisiológicos ligados aos controles respiratório, cardíaco e da atividade elétrica cerebral, refletindo, à nível afetivo e comportamental, um aumento no controle da ansiedade, de pensamentos ruminantes e de sentimentos negativos. A associação de diferentes instrumentos e práticas diagnósticas e terapêuticas mostra-se de grande utilidade nos cenários clínico e de pesquisa para tratamentos e investigações mais eficazes.
REFERÊNCIAS
Barnett, J. E., Shale, A.J (2012). The Integration of Complementary and Alternative Medicine (CAM) Into the Practice of Psychology: A Vision for the Future. Professional Psychology: Research and Practice. 2012, Vol. 43, No. 6, 576 –585
Frank, D. L., Khorshid, L., Kiffer, J. F., Moravec, C. S., & McKee, M. G. (2010). Biofeedback in medicine: who, when, why and how?. Mental health in family medicine, 7(2), 85–91.
Mayo Clinic. Biofeedback. Retrieved from https://www.mayoclinic.org/tests-procedures/biofeedback/about/pac-20384664,
World Health Organization. (2018). International statistical classification of diseases and related health problems (11th Revision). Retrieved from https://icd.who.int/browse11/l-m/en
Editado por Jury R. Gomez Garcia e Matheus T. Araújo
Centro de Pesquisa em Nerociências IEPSE/IMPI
jury@iepse.com.br
matheus@iepse.com.br
03/02/2020